quinta-feira, 9 de março de 2017

Ansiedade pré-competição ou "pré-pedal"

Segue o link de um artigo que escrevi para a Revista Bicicleta:



Ansiedade pré-competitiva ou “pré-pedal”: (antes do pedal com os amigos, competição, desafio, cicloturismo): é aquela que ocorre cerca de 24 h antes de uma competição ou evento e provoca um sentimento negativo e desagradável. Nós comumente chamamos essa condição de “estar muito nervoso”. Normalmente quando temos certeza sobre nossa preparação, ou seja, nossa capacidade de enfrentar um desafio está equilibrada com as exigências do pedal, a ansiedade se mantém em níveis favoráveis. Mas quando a percepção da nossa capacidade frente à demanda é incerta ou insuficiente, a sensação de ameaça iminente pode se estabelecer e os níveis de ansiedade podem trazer prejuízos...continuar lendo

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Revista Bicicleta: Psicologia para Ciclistas

Segue o link do artigo que escrevi para a Revista Bicicleta:



Psicologia para Ciclistas

"Nesta Edição iniciamos uma série de artigos sobre as contribuições que a Psicologia do Esporte e do Exercício pode trazer para os praticantes desse esporte apaixonante que é o ciclismo. Vou dar ênfase ao MTB, mas vários dos conceitos e técnicas aqui apresentadas podem ser utilizadas nas outras modalidades que utilizam as magrelas. o conteúdo abordado..."

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Psicologia para ciclistas

Iniciando hoje uma série de postagens sobre as contribuições que a Psicologia do Esporte e do Exercício pode trazer para os praticantes desse esporte apaixonante que é o ciclismo. Vou dar ênfase ao MTB (Mountain Bike), mas vários dos conceitos e técnicas que vou falar aqui podem ser utilizadas nas outras

modalidades que utilizam às "magrelas". O conteúdo abordado pode servir desde o atleta profissional, até aquele ciclista que deseja fazer um pedal para se reunir com os amigos sem compromisso de competir. O atleta amador que deseja superar um desafio como Audax Randonneurs ou uma ultramaratona de MTB, também pode se beneficiar do conteúdo. 
Lembrando que o meu objetivo aqui é informar e que essa informação não substitui a intervenção de um psicólogo do esporte, apenas mostra um pouco de como é realizado o trabalho desse profissional. Se desejas desenvolver habilidades psicológicas necessárias à prática esportiva, seja para seus treinamentos, competições ou mesmo para utilizar em outros âmbitos da vida, contate um profissional da área. Desenvolva suas potencialidades! Observe-se! Descubra-se! Conheça-se! Persista! Vença!


Vou tentar abordar em cada item publicado um tema, por exemplo: como se preparar para uma competição, como superar momentos difíceis nos treinos ou provas, como lidar com a ansiedade pré-competição, qual o nível de ativação ideal para competir, enfim são muitos os temas. Mas não quero que isso seja de uma forma "fechada", gostaria da participação de todos os ciclistas, podem mandar dúvidas, sugestões de temas a serem abordados, críticas. Quero contribuições, quero agregar e contribuir ao esporte com conteúdo de qualidade e para isso sua ajuda será sempre bem vinda. Espero que aproveitem a leitura, sem mais delongas, segue o primeiro artigo.

Parada de pensamento (Técnica do PARE) e Auto-instrução

"Eu não vou conseguir ficar nessa roda", "ele não vai aliviar nunca?", "não vou conseguir manter esse ritmo", "hoje é dia de pedal e estou cansado", "esse morro não tem fim?", "essa bike está pesada pra mim", hoje eu estou uma moto vou forçar mais um pouco".

Esses são alguns pensamentos que podemos ter enquanto pedalamos em um treino, competição, ou mesmo em um percurso mais difícil de um passeio. Quando estamos pedalando é comum termos vários tipos de pensamentos, sensações e emoções, algumas serão negativas e provavelmente nos farão diminuir o ritmo e outras positivas que nos impulsionarão a continuar. O fato é que continuamente estamos sendo bombardeados por um carrocel de pensamentos variados. Normalmente nos preparamos para sair e pedalar, pensamos nas condições da bike, nas condições que vai estar o tempo, na nossa condição física, na alimentação que vamos levar e por aí vai. Mas pensamos sobre o que vamos pensar durante um pedal? Quando a coisa ficar feia no morro e normalmente fica, como eu lido com essa situação? E quando ainda está leve eu preciso me preocupar com o que está por vir? Você já reparou no que pensa enquanto pedala?
Para tentar lidar com esses pensamentos vou explicar duas técnicas que parecem ser bem básicas, mas que podem ser muito poderosas se usadas no momento certo e da maneira correta. 

Parada de pensamento ou Técnica do PARE

Essa técnica consiste em utilizar uma palavra previamente selecionada para parar os pensamentos que podem causar um efeito prejudicial sobre a sua performance. Normalmente esses pensamentos negativos tem um efeito do tipo "bola de neve" e nos retiram a clareza da forma de pensar. Essa palavra tem de acabar com essa cascata de pensamentos, muitas vezes intrusivos e sabotadores. Vou dar-lhes um exemplo: 

Você está andando na roda de outro ciclista em um ritmo forte, mas que ambos tem capacidade física para manter. De repente você percebe os seguintes pensamentos: "está difícil manter esse ritmo hoje", "se eu aliviar talvez ele alivie um pouco também". É incomum esses pensamentos não surgirem em algum momento difícil do pedal, até porque nosso cérebro está recebendo as informações de todo o corpo e pode lançar reações precipitadas que fazem parte de seu mecanismo de defesa. É nesse momento que devemos parar esses pensamentos e utilizar a palavra que previamente selecionamos.

 É importante que a palavra escolhida tenha um forte significado para você, que ela faça você lembrar de momentos de superação já vividos. Pode ser algo tipo,"SIGA", "PARE", "BLINDADO", "RELAXA", "VAI", esses são exemplos de palavras que já vi atletas utilizando e que para eles funcionava muito bem. Pode até mesmo ser uma breve frase do tipo: "ninguém quer ser feio" como o conhecido Brou Bruto utiliza. Lembrando que é importante que essa palavra possa trazer boas lembranças de momentos já vividos de superação, de um momento que para você foi épico em um treino ou competição, até mesmo um momento de superação em sua vida pessoal. A palavra ou frase pode ser acompanhada de um gesto como os praticados pelo tenista Nadal. Alguns atletas preferem escrever a palavra em algum local visível, atletas de lutas escrevem na faixa, tenistas na raquete, surfistas na prancha. Os ciclistas podem colar a palavra ou frase na bike, no guidão, na mesa do guidão, no quadro, nas luvas, onde julgar melhor. Uma sugestão interessante é colocar no guidão ou na mesa, já que tendemos a olhar para baixo quando estamos cansados ou em uma subida. Se você conseguiu utilizar a técnica é provável que cessem os pensamentos, mas ao longo do percurso podem voltar a reaparecer. Talvez nesse momento seja interessante o uso de outra técnica em conjunto.

Auto-instruções
 As auto-instruções se referem a identificação de verbalizações encobertas, ou seja, pensamentos intrusivos e indesejáveis que por possuírem teor depreciativo podem minar a nossa disposição para manter o desempenho. Uma vez identificadas, nós devemos introduzir novas instruções através de frases, sempre com teor positivo nunca negativo. No primeiro momento você aprendeu a parar os pensamentos, agora após pará-los você precisa substituí-los por novas instruções. Por exemplo: 

Quando se está andando na roda e percebe a dificuldade, estipule novas instruções do tipo: "siga até aquele ponto na estrada", "mantenha o ritmo por mais X minutos", "vamos até ultrapassar o pelotão". Em situações em que você está no meio da prova e é surpreendido por um ataque inesperado você pode se instruir da seguinte forma: "vamos lá você está certo, espere um pouco, logo vem um trecho mais favorável e ele pode ser alcançado, confie". "Continue a marcar seu ritmo, esqueça os outros"! "Espere, recupere-se andando na roda, depois ataque". Quando estivermos subindo um morro duro ou longo pode-se dizer as seguintes instruções: "respire, mantenha o ritmo e não acelere", "reduza uma marcha e mantenha o ritmo até o final", "paciência, mantenha o ritmo e nos últimos 50m desça duas marchas e pedale em pé até o fim". Se for um pedal longo, talvez as instruções no início tenham de ser para controlar o ritmo e não acelerar: "mantenha-se focado no ritmo, não acelere, ainda faltam 80km"; "na subida reduzo marcha, mas mantenho giro sem forçar".

É importante manter o reforçamento positivo após conseguir cumprir a auto-instrução, elogie-se: "parabéns"; "eu fui capaz de me superar como daquela vez"; Reconheça o seu mérito isso manterá a motivação e aumenta-rá a probabilidade de você se esforçar cada vez mais para cumprir a auto-instrução. 

As técnicas psicológicas precisam ser treinadas constantemente para que sejam dominadas de forma a serem utilizadas nas mais diversas situações. Desenvolva seu repertório de palavras para bloquear os pensamentos indesejados e monte suas auto-instruções para as diferentes situações. Programe o que vai pensar durante os seus treinos e competições com certeza isso pode servir para conseguir dar aquele gás a mais na hora do aperto.

Espero que tenham aproveitado a leitura e que o conteúdo acrescente algo aos seus treinos e corridas, deixo em aberto para sugestões e comentários.

Abraço a todos.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Lutadores precisam de um programa de preparação psicológica?

Lutadores precisam de um programa de preparação psicológica?



Posso afirmar que SIM. Mas se você enquanto atleta de combate nunca sentiu algum tipo de pressão, ansiedade, medo, raiva, insegurança, insonia, humor depressivo em caso de lesão, ou mesmo não considera a preparação psicológica importante para sua vida pessoal. Aí sim, talvez, sua resposta possa ser um não





Com a expansão crescente do MMA (Mixed Martial Arts) pelo mundo, houve um aumento de praticantes de artes marciais se profissionalizando e alimentando o sonho de se tornar um lutador do maior evento de MMA da atualidade. O nível técnico/tático, físico e psicológico nesses eventos, tem exigido dos atletas um "Camp" (equipe e período de preparação para a luta) cada vez mais complexo e envolvendo diversos profissionais. Além de um bom treinador o atleta precisa do trabalho interdisciplinar de uma equipe de profissionais, visando todo o suporte necessário para o seu máximo rendimento. Infelizmente, não raro são as vezes em que a preparação do atleta prioriza o treinamento físico e técnico/tático em detrimento do treinamento psicológico. Sendo assim corre-se o risco de termos um atleta com um rendimento "insano" nos treinos, mas que na hora da luta não consegue apresentar o mesmo desempenho. Entre os vários fatores que podem levar o atleta a ter um rendimento insatisfatório, os fatores psicológicos tem sido apontados por pesquisadores como Weinberg e Gould (2008) como um dos principais causadores de flutuações no desempenho esportivo dos atletas.





A psicologia do esporte e do exercício pode contribuir de maneira significativa para melhorar o desempenho dos atletas de combate. As artes marciais trazem em seu bojo filosófico elementos que podem ser facilitadores na preparação psicológica, favorecendo assim a implementação de práticas de treinamento psicológico. Na filosofia das artes marciais algumas características como a capacidade de concentração, disciplina, respeito mútuo, entre outras. São características constantemente enaltecidas como elementos necessários aos praticantes. Dessa forma o psicólogo do esporte pode utilizar a filosofia das artes marciais a seu favor na hora de elaborar as melhores estratégias para implementar o treinamento psicológico entre os atletas.





A constante cobrança por resultados positivos e a ameça de risco de corte dos eventos geram níveis elevados de ansiedade e obrigação de vitória. O atleta que não consegue caminhar sobre essa "corda-bamba" tem uma grande probabilidade de comprometer o seu ren
dimento. O objetivo da psicologia do esporte não é fazer com que o atleta não sinta essas emoções, pelo contrário é importante que ele as sinta e saiba identificá-las. O que ele precisa é desenvolver as ferramentas necessárias para lidar com essas situações inerentes das competições. Saber gerenciar seus medos, encontrar seu nível ideal de ativação para competir, controlar a ansiedade pré-competição, administrar o monólogo interno advindo do grande esforço físico que diz para parar quando devemos continuar, enfim conseguir aproveitar ao máximo esse momento para o qual tanto se preparou. A psicologia do esporte e do exercício conta com uma metodologia científica, sendo assim de forma educativa, busca-se desenvolver junto com o atleta e equipe as habilidades psicológicas necessárias em seus treinos e competições.

Referencias
WEINBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do 
Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artmed, 2008.




quinta-feira, 15 de maio de 2014

Psicologia do Esporte?

Psicologia do esporte? O que é isso? Existe um psicólogo do esporte? Isso é útil? E o que ele faz, diz ao atletas "vamos lá, você pode, você vai conseguir"?

Perguntas como essas, ou mesmo semelhantes eu ouço quando digo que trabalho com psicologia do esporte. Infelizmente essa disciplina ainda é pouco divulgada e posso afirmar que é também pouco aproveitada, mas tem muito a oferecer. Desconhecida não apenas fora do mundo do desporto, mas mesmo dentro dele por atletas, técnicos, dirigentes, torcedores, etc. Então vamos definir de forma prática e breve o que é psicologia do esporte.

A Psicologia do Esporte e do Exercício pode ser definida como o estudo científico dos indivíduos e seus comportamentos em situações de esporte e atividades físicas. Esse estudo gera conhecimentos, os quais são articulados para a aplicação prática.

O psicólogo do esporte tem por objetivo compreender como fatores psicológicos podem influenciar no desempenho da prática esportiva, compreendendo também como a participação nessas práticas podem afetar o desenvolvimento das pessoas inseridas nesse ambiente. 

A inserção do psicólogo do esporte em uma equipe desportiva é essencial para o desenvolvimento do potencial dos atletas. A não inserção do psicólogo na equipe pode acarretar em uma ênfase no treinamento físico e técnico/tático em detrimento do treinamento psicológico, dificultando para o atleta o desenvolvimento de habilidades psicológicas necessárias para melhoria e manutenção de seu desempenho. A realidade esportiva tem apontado que o maior causador de flutuações no desempenho esportivo são fatores psicológicos, temos atletas no ápice de seu desenvolvimento físico e técnico, mas que frente as dificuldades inerentes da competição não conseguem sustentar um padrão ideal de performance. O atleta durante os treinos chega a executar índices superiores aos recordes olímpicos, mas no momento da competição acaba por cometer erros de um iniciante, as vezes por ansiedade, estresse, "falta de atenção", perda do foco, "medo". Enfim, muitos são os motivos apontados, mas a questão é que pode-se treinar e desenvolver habilidades psicológicas que possibilitem controle sobre esses fatores da competição.

O psicólogo do esporte e triatleta Dr. Jim Taylor, utiliza um exemplo interessante para explicar a importância do desenvolvimento de habilidades psicológicas
Se você está andando de bicicleta no meio de uma competição e seu pneu fura, a primeira coisa que você pensa é em como lidar com essa situação da melhor forma possível, nesse caso parar e concertar o pneu. Mas isso só será possível se você carregar as ferramentas para conseguir efetuar a troca do pneu e seguir na competição. O mesmo acontece quando temos de lidar com fatores psicológicos que podem nos afetar durante a competição, ou mesmo em situações cotidianas da vida. Podemos ficar ansiosos, com medo, com raiva, perdermos nosso foco, esquecermos a execução de um determinado comportamento chave, avaliarmos a situação de maneira errada, perder a atenção sobre a atividade, perder a motivação, enfim, chegando ao fracasso. Para podermos lidar com nossas emoções, cognição e comportamentos é necessário que tenhamos a nossa disposição as ferramentas necessárias. As ferramentas são as habilidades psicológicas que podem e devem ser desenvolvidas durante a temporada de treinamento que precede a competição. Cabe ao psicólogo do esporte auxiliar no desenvolvimento dessas habilidades, utilizando-se do aporte teórico/metodológico da psicologia do esporte. 




Referências

WEINBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artmed, 2008.

JIM TAYLOR. It's All About the Mind: the psychology of cycling. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JKbiBNztErQ